terça-feira, 13 de abril de 2010

Cantiga para fazer Paçoca




Newton Navarro (1964)

Dois, dois
O pilão batucando
Dois, dois
A pancada a soar
Dois, dois
Duas mãos arremessam
Dois, dois
Outra mão para o ar
Dois, dois
Na madeira furada
Dois, dois
A farinha a pisar
Dois, dois
Carne seca moída
Dois, dois
No pilão a socar
Dois, dois
Mandioca plantada
Dois, dois
Farinhada desfez
Dois, dois
Carne ao sol espetada
Dois, dois
Carne verde de rês
Dois, dois
Mandioca em farinha
Dois, dois
Carne ao sol ressecou
No pilão misturadas
Dois, dois
Em paçoca virou
Dois, dois
Meu irmão, camarada,
Dois, dois
Se abanque pra cá
Dois, dois
Seu café no caneco
Dois, dois
Pra paçoca provar
Dois, dois
E também não se esqueça
Dois, dois
De outra coisa dizer
Dois, dois
Sem banana a paçoca
Dois, dois
Não adianta comer
Dois, dois
E assim explicada
Dois, dois
Na toada ficou
Dois, dois
A paçoca gostosa
Dois, dois
Que Sinhô Rei me mandou!


Nota
Newton Navarro, pintor, jornalista, poeta, orador, escreveu na praia de Redinha, Natal, em junho de 1964, essa toada da paçoca no velho ritmo de "bater caçula", sacando a carne e a farinha com cebola vermelha, nas batidas alternadas das mãos sapientes, mantendo contemporânea uma solução brasileira do século XVI.

Conforme Teodoro Sampaio, in O tupi na geografia nacional, 3ª ed., Bahia, 1928, "à carne ou peixe pilado e misturado com farinha davam o nome pó-çoka, que quer dizer pilado a mão ou esmigalhado a mão".

(Em Cascudo, Luís da Câmara (org.). Antologia da alimentação no Brasil. Rio de Janeiro, Livros Científicos Técnicos, 1977)

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