terça-feira, 13 de abril de 2010

LIMITAÇÕES


LIMITAÇÕES

Newton Navarro -1953



Tenho um Verso na mão direita
E na esquerda meu coração .


De propósito
Arranquei do meu corpo
Todas as razões maiores
Para que meus sentimentos ficassem guardados escuros.
Fiquei mais adiante
Dos meus limites.

Defronte do meu rosto
A casa-grande da infância.
(Dizem que a minha inocência ficou lá dentro, entre crótons,
Avencas e sombras de mangueiras).

Sob meus pés
Palpitam todos os caminhos:
As aventuras,
As estradas,
As ruas que percorri.

Atrás de mim
Um tempo inconcluso
Onde é sempre tarde,
Com sinos,
O impreciso horizonte de uma rua
E os olhos de uma figura,
Tristíssimos, como um santo.

Se adiantar mais a mão esquerda,
Tenho porções de mistério,
O desconhecido
Mapa azul se agitará,
E as cidades principiarão a existir.

Mas,
Penso no meu coração e estou imóvel.



Assim
Desenho um gesto
Somente,
Com a mão direita,
Como quem fosse indicar um rumo
Chamar um amigo ou simplesmente sentir
O crescimento de uma planta.

E no meu gesto
Vai o meu verso.

Enquanto o coração
Fica em seu misterioso canto,
Entre os mesmos limites,
Esperando que um dia, Toda a cidade, Com o mesmo displicente aceno, Me aponte as direções de minha origem.

Até então...





(Poema extraído do primeiro livro de poemas “ Subúrbio do Silêncio” publicado originalmente em 1953).

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